Reforma Protestante, Sacerdócio Universal de todos os cristãos e Amizade.

Nesse final de semana fui a um retiro com o pessoal do discipulado que estou participando. O nome é “Caminhada” e não vejo nome mais apropriado para isso.

Nossa vida terrena é uma caminhada em direção ao céu. É um breve momento em que temos o privilégio de glorificar a Deus e gozá-Lo (para sempre). Deus poderia usar infinitas formas para fazer e desfrutarmos disso, mas Ele escolheu nos colocar em um corpo, onde Cristo é a sua cabeça. Onde cada pessoa é um membro ativo, mas dependente do outro. Isso é igreja!

Timothy George, em seu livro “Teologia dos Reformadores” diz que a maior contribuição de Lutero à eclesiologia protestante foi a sua doutrina do sacerdócio universal de todos os cristãos. Ele explica também como esse ensino é mal compreendido, pois há quem entenda que não há mais um ministério ordenado dentro da igreja ou que cada cristão é seu próprio sacerdote.

Os reformadores insistiram nessa doutrina fazendo oposição à divisão entre o clero e os leigos. A igreja não é dividida por alguns tidos como mais santos, por desempenharem funções eclesiásticas, e outros menos santos, por trabalharem “no mundo”. Não existe dicotomia na vida de um cristão. Tudo é santo, tudo é espiritual. Todo crente foi vocacionado por Deus para algo e é fazendo isso que Deus é glorificado e a igreja é edificada. Não há uma vocação, nem um dom melhor que o outro, isso é claro em 1 Coríntios 12,  Efésios 4 e 1 Pedro 4.10-11. Tudo é obra de Deus.

Como cristãos, somos chamados a viver uma vida de obediência, somos chamados a sermos à imagem do Filho.  Como profetas, devemos proclamar a mensagem de Deus, sua salvação e juízo, ser coluna e firmeza da verdade, sabendo que Ele nos fez reis e sacerdotes (Êxodo 19.6; Marcos 16.15, 2 Coríntios 2. 17, Apocalipse 3. 21; 5. 10). Por isso podemos ir diante de Deus e interceder pelo outro. Lutero afirmava que ninguém pode negar que todo cristão tem a Palavra de Deus e é ensinado e ungido por Deus para ser sacerdote.

Esse sacerdócio é por meio da união com Cristo, que é o único intermediário entre Deus e os homens (1 Timóteo 2.5). Isso é um privilégio, pois temos acesso a Deus sem a mediação de outro homem, mas também temos responsabilidades: somos sacerdotes uns dos outros. E, no mesmo livro citado acima, o autor traz a definição de igreja apresentada por Lutero: communio sanctorum, uma comunidade de santos… E Timothy George reitera: “Uma comunidade de intercessores, um sacerdócio de amigos que se ajudam, uma família em que as cargas são compartilhadas e suportadas mutualmente”.

E ao examinar o Novo Testamento vê-se que o termo “uns aos outros” é várias vezes usado. O serviço mútuo é claro nas Escrituras. Algumas dessas referências são: Mateus 18.15; Romanos 12.10, 14.19; 15. 1-7, 14; Gálatas 6. 1-4; Efésios 6.18; Colossenses 3.16; 1 Tessalonicenses 5. 12-14; Tito 1.9; 2. 1-15; Hebreus 3.12-13, 10.24-25; Tiago 5.16.

Nossa união com Cristo nos faz estar unidos uns aos outros em amor, perseverando na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações (Atos 2. 42); sendo  igreja,  sendo um corpo, onde os membros têm igual cuidado uns dos outros (1 Coríntios 12.25).  Tendo o prazer de servir e não apenas de ser servido, sendo Cristo o nosso exemplo, que mostrou que “ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (João 15.13). Cristo veio para servir, para dar a sua vida em resgate de muitos (Marcos 10.45).

Que sejamos essa comunidade de santos, um sacerdócio de amigos. Que tenhamos uma eclesiologia embasada na obra de Cristo. Respeitando àqueles que Deus vocacionou para o ministério eclesiástico, atendendo o próximo em suas necessidades, sendo amigos, sendo a geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9).

Usando as palavras de John MacArthur: “Observemos novamente o quadro inteiro. Somos novo homem, isto é constituímos uma nova espécie de humanidade.  Somos um corpo; somos cidadãos da mesma pátria celestial; membros da mesma família divina; e somos um edifício vivo.  Estamos em paz com Deus, e portanto em paz uns com os outros.  Somos uma comunidade onde não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; todos somos um em Cristo.  E nossa unidade não vem de uma organização, mas de um organismo.  Nossa unidade não procede de ritual, mas de relacionamento.  Nossa unidade não resulta de uma liturgia, mas do amor.  Nossa unidade é Cristo.  Todas estas verdades constituem a nossa posição em Cristo.  Portanto, vivamos à altura da nossa vocação”.

“E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém” (Apocalipse 1.5-6).

Adelaine de Sousa

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