A doutrina da predestinação em Calvino e o caráter moral de Deuss

Capa de Livro: A doutrina da predestinação em Calvino e o caráter moral de Deuss

Predestinação CalvinoO objetivo desse livro, segundo o autor, é “identificar alguns deslizes na doutrina da predestinação de Calvino que comprometem a ideia da perfeição do caráter de Deus”.

Esclarecimentos

Não sou uma estudiosa sobre esse assunto, não quero causar polêmica e muitos menos entrar em debates virtuais de calvinistas x arminianos, mas vou expor minhas considerações sobre este livro e ninguém é obrigado a concordar comigo.

Predestinação

Entretanto, na introdução, percebi uma contradição. O autor escreve que a Bíblia deixa claro que há a predestinação divina; explica o significado que é “determinar antes”, “destinar de antemão” e que a polêmica é sobre se ela é incondicional (Calvinismo) ou condicional (presciência), que considera as futuras decisões humanas. Mas se é algo que depende da decisão humana, Deus não predestinou nada, apenas viu antes e ratificou a decisão do homem.

O autor fala sobre o início da polêmica da predestinação onde alguns judaizantes criticavam a salvação dos gentios e Paulo diz que Deus é soberano para escolher ou rejeitar o povo ou pessoa que ele quisesse (Romano 9-11) e afirma que essa salvação prometida para a coletividade israelita ocorrerá nos últimos dias dos judeus (escatologia, este é outro tema que ainda não estudei). Apenas lendo esse trecho de Romanos que ele citou, para mim está claro que Deus é soberano e sua ação na salvação não depende de autorização humana.

Predestinação e os Pais da igreja

Ele continua falando como era esse tema na época dos pais da Igreja, onde vários destes defenderam a existência da graça e do livre-arbítrio. Fala da oposição a Pelágio, onde os Cassianos receberam o apelido de semipelagianos, pois condenavam Pelágio, por afirmar que sem uma graça especial, o homem pode alcançar a salvação, como também discordavam da ideia monergística de Agostinho. Fala da diferença entre Agostinho e Calvino.

Teologia reformada e teologia da reforma

Diferencia a “teologia reformada” – Calvinista e a “teologia da Reforma” – atribuída aos princípios dos protestos de Lutero. Cita nove sínodos que não apoiaram a teoria da predestinação incondicional para a perdição. Para este caso, gostei do exemplo com a Lei da Gravidade, do livro “Deus é soberano”; A. W. Pink usa esse exemplo para mostrar que todos os homens já estão indo para o inferno o que Deus faz é salvar alguns. O autor cita o sínodo de Westminster onde este diz atribuir à prática do pecado a causa da predestinação à perdição.

Predestinação e eleição

Fala sobre eleição (Ef 1.4). E, se formos olhar no dicionário, eleito é escolhido, preferido, então Deus nos escolhe porque o escolhemos primeiro?  Quem toma a iniciativa é o homem? Acredito que não.

Deus e a predestinação

Já ouvi várias coisas de muitos que são contrários à teologia calvinista e que não foi do modo que aprendi. Aprendi que Deus não é tirano, Deus não ordena ninguém a pecar, Deus não é autor do pecado! Apenas somos limitados na relação entre a Soberania de Deus e a responsabilidade humana. Uma coisa não anula a outra! Nós que não entendemos esse mistério. Mas sei que no calvinismo não somos marionetes. Somos seres morais.

Às vezes, lendo algumas frases, deu a entender que para o autor quem controla a história é o homem, pois Deus só agiria pela presciência e a sua soberania é demonstrada por intervenções esporádicas.

Uma vez salvo, salvo para sempre?

O autor fala dos hipercalvinistas, onde estes “acham que, pecando, a graça será mais abundante em sua vida”. Nesse ponto vou falar da típica frase “uma vez salvo, salvo para sempre”. Isso é verdade! Quem é salvo, é salvo. Mas há quem fale essa frase afirmando que os calvinistas pregam que, ao ser salvo, podem fazer o que quiser que irão ser salvos de todo jeito. Só que para um calvinista quem tem prazer no pecado só mostra que nunca nasceu de novo. Quem é nova criatura, tem nova natureza, até peca (enquanto estivermos no mundo iremos pecar), mas não se deleita nisso; se entristece, se arrepende...

Ditadura, democracia e monarquia

Tem um trecho que diz que a onipotência jamais exige que o tipo de governo escolhido por Deus seja uma ditadura. Concordo. Não é uma ditadura. Mas também acredito que não seja uma democracia e sim uma monarquia.

Predestinação e o Espírito Santo

Uma coisa que me chamou bastante atenção é que ele colocou a persuasão retórica do pregador e outras coisas no mesmo nível da persuasão do Espírito Santo! Em 2016, ao fazer uma resenha sobre o livro “Nossa suficiência em Cristo” de John MacArthur, tinha discordado quando MacArthur falou sobre o arminianismo, dizendo que coloca “sobre o evangelista a responsabilidade de usar técnicas que sejam inteligentes e criativas o bastante para influenciar a decisão de uma pessoa”. Antigamente eu defendia porque pensava que eles acreditavam que a pregação é o meio, a pessoa é o instrumento, mas quem convence é o Espírito Santo; agora eu sei que o motivo da crítica de MacArthur. Achei muito estranho colocar a persuasão humana no mesmo patamar da persuasão do Espírito Santo...

Calvino

Ebenezer Oliveira conclui que Calvino “não é digno de nosso ódio, pois ele jamais pretendeu criar heresias”. Ele também diz que, em Calvino, Deus é, necessariamente, pecador, não é amor, não é benignidade, não é bondade e nem misericórdia; é maquiavélico, relativista moral e injusto.  O pouco que li e ouvi sobre o Calvinismo não diz nada disso. Mas como John Piper diz no livro “Cinco Pontos”, “Oro para que eu esteja aberto a mudar qualquer de minhas ideias que seja mostrada como arbitrária à verdade da Escritura. Não tenho nenhum interesse especial no próprio João Calvino e penso que algumas das cosas que ele ensinou são erradas. Mas, em geral, estou disposto a ser chamado de calvinista dos cinco pontos, porque esta designação tem sido vinculada a estes cinco pontos durante séculos e porque acho que a posição calvinista é fiel à Escritura. A Bíblia é a nossa autoridade final”.

Conclusão

Concluo com um trecho do livreto “Deus controla tudo?” de R. C. Sproul: “... embora creiamos em um Deus soberano que governa e ordena tudo o que acontece, seu governo soberano e providencial não é exercido de uma maneira que destrua o que chamamos de liberdade humana, ou volição humana. Em vez disso, as escolhas humanas e as ações humanas são uma parte de todo o esquema providencial das coisas, e Deus faz a sua vontade acontecer por meio das livres decisões de agentes morais. O fato de que nossas decisões espontâneas se encaixam neste plano geral não diminui, de modo algum, a realidade dessa liberdade. (...) É difícil entender a relação entre a providência de Deus e a liberdade humana, porque o homem é verdadeiramente livre, no sentido de que tem a capacidade de fazer escolhas e de escolher o que quiser. Mas Deus também é verdadeiramente livre. Essa é a razão por que a Confissão de Fé de Westminster pode dizer que Deus ordena “livremente” tudo, sem violentar “a vontade da criatura”. Evidentemente, se já ouvi isto uma vez, já o ouvi inúmeras vezes: ‘A soberania de Deus nunca pode limitar a liberdade do homem’. Isso é uma  expressão de ateísmo, porque, se a soberania de Deus é limitada, em alguma medida, por nossa liberdade, ele não é soberano. Que tipo de conceito de Deus temos, que nos diria que Deus é paralisado pelas escolhas dos homens? Se a liberdade de Deus é limitada por nossa liberdade, nós somos soberanos e não Deus. Não, nós somos livres, mas Deus é muito mais livre. Isto significa que nossa liberdade nunca pode limitar a soberania de Deus”.

Que Deus nos ajude!

Trecho:

"Calvino sabia que não se podia ultrapassar os limites da palavra de Deus, pois disse: 'A predestinação nos será indubitavelmente um labirinto [...] tal conhecimento nos será indubitavelmente benéfico, contanto que não se ultrapassem os limites da Palavra de Deus".

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